Nas últimas décadas, foram registrados avanços significativos para meninas e mulheres. Desde 2015, por exemplo, 50 milhões a mais de meninas passaram a frequentar a escola, milhões de mulheres ingressaram no mercado de trabalho, o número de mulheres em posições de liderança aumentou, as taxas de casamento infantil têm diminuído em todo o mundo, e houve uma queda nas mortes maternas.

A nutrição desempenha um papel fundamental nesse progresso. Meninas bem alimentadas têm um desempenho melhor na escola; mães bem nutridas vivem gestações mais saudáveis. Elas têm menos chances de enfrentar complicações no parto, e mulheres com boa nutrição tendem a ter salários mais altos. Esse aumento na renda garante maior autonomia para tomar decisões que impactam tanto sua própria alimentação quanto a de seus filhos. Além disso, melhorar a nutrição, especialmente entre mulheres e meninas, é essencial para alcançar a igualdade de gênero e os Objetivos Globais da ONU.

No entanto, apesar desses avanços, mais de 1 bilhão de mulheres e meninas adolescentes em todo o mundo ainda sofrem com desnutrição, carências nutricionais ou anemia. E mais: a taxa de desnutrição aguda entre gestantes, lactantes e adolescentes aumentou 25% desde 2020, nos 12 países mais impactados pela crise global de alimentos e nutrição. No Sul da Ásia e na África Subsaariana, 68% das meninas e mulheres jovens estão abaixo do peso, e 60% delas vivem com anemia.

A situação continua se agravando com a crise alimentar global, o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis, os conflitos, a pobreza e os fenômenos ambientais extremos causados pelas mudanças climáticas. Isso tornará ainda mais difícil o acesso das meninas e mulheres mais vulneráveis a dietas nutritivas, recursos e cuidados essenciais.

Atualmente, nenhum país está no caminho certo para atingir as metas globais de 2030 de reduzir pela metade os casos de anemia entre meninas adolescentes e mulheres, nem de diminuir em 30% o número de bebês que nascem com peso abaixo do ideal. A resposta global, por meio de políticas, programas e ações, ainda é insuficiente para garantir o direito à nutrição adequada para todas as meninas e mulheres.

Confira seis caminhos para melhorar a nutrição de mulheres e meninas.

1. Investir no Empoderamento Econômico das Mulheres

Quando meninas adolescentes e mulheres têm poder de decisão sobre suas próprias vidas e acesso adequado a recursos econômicos, elas conseguem garantir com mais facilidade dietas nutritivas e os cuidados de que precisam.

A participação das mulheres no mercado de trabalho contribui diretamente para uma alimentação mais diversa e nutritiva nos lares — um benefício que se estende não apenas a elas, mas a todos os que vivem sob o mesmo teto. Isso acontece porque, ao conquistarem independência financeira, mais conhecimento sobre alimentação equilibrada e voz ativa nas decisões da casa, as mulheres passam a ter mais autonomia para escolher alimentos mais saudáveis e variados para si mesmas e suas famílias.

2. Ampliar o Acesso a Suplementos Multivitamínicos para Gestantes

Uma gravidez saudável exige uma alimentação equilibrada, com energia, proteínas, vitaminas e minerais suficientes para atender às necessidades aumentadas da mãe e do bebê em desenvolvimento. No entanto, muitas gestantes não consomem frutas, vegetais, carnes e laticínios em quantidade suficiente para suprir essas demandas. Essa carência nutricional costuma estar ligada à falta de acesso a esses alimentos essenciais, seja por conta da localização geográfica, do aumento no preço dos alimentos, dos impactos da crise climática na produção local ou até mesmo de conflitos e instabilidade que dificultam o acesso à comida.

Isso pode levar à deficiência de nutrientes essenciais, um problema especialmente comum na África Subsaariana, no sul da Ásia central e no sudeste asiático. A desnutrição materna é amplamente disseminada nessas regiões e está diretamente ligada a desfechos negativos durante o parto.

Os suplementos multivitamínicos, que reúnem 15 micronutrientes essenciais, são comprovadamente uma forma segura e eficaz de melhorar a ingestão nutricional durante a gravidez. Estudos mostram que esses suplementos são mais eficientes do que o uso isolado de ferro e ácido fólico no combate ao baixo peso ao nascer, especialmente entre gestantes anêmicas ou com baixo peso. Outro benefício fundamental é a sua capacidade de ajudar a reduzir a mortalidade materna e os casos de natimorto.

Apesar dos benefícios comprovados, apenas 43% das gestantes utilizam suplementos de ferro e ácido fólico, e apenas 29 países de baixa e média renda oferecem suplementos multivitamínicos em larga escala.

3. Ampliar os Programas de Proteção Social para Garantir a Segurança Nutricional das Mulheres

Os programas de proteção social podem ajudar a enfrentar a vulnerabilidade, a desigualdade de gênero e a pobreza, oferecendo recursos como dinheiro, alimentos ou vales para famílias de baixa renda. Quando direcionados especificamente para as mulheres, esses programas fortalecem a segurança alimentar e nutricional ao ampliar a autonomia feminina e seu poder de decisão. Mulheres que participam dessas iniciativas costumam tomar decisões mais conscientes e eficazes relacionadas à nutrição, tanto para si quanto para seus filhos.

4. Aumentar o Investimento para Mulheres no Setor Agrícola

Você sabia que mulheres e meninas representam cerca de 43% da força de trabalho agrícola no Sul Global? No entanto, elas enfrentam obstáculos que os homens do campo geralmente não enfrentam, como o acesso limitado à terra, crédito e maquinário. Apoiar as necessidades essenciais das mulheres no setor agrícola é uma estratégia poderosa para melhorar seu bem-estar, reduzir a fome, aumentar a renda e fortalecer a resiliência das comunidades.

5. Reforçar o Financiamento para Pesquisas sobre a Nutrição de Mulheres e Meninas

Assim como em outras questões ligadas ao desenvolvimento, a pesquisa e os dados são fundamentais para enfrentar os desafios nutricionais vividos por meninas adolescentes e mulheres. A coleta e a análise periódicas de dados ajudam comunidades e governos a entender a dimensão e o impacto da desnutrição feminina, promovendo uma compreensão mais profunda do problema e, consequentemente, impulsionando ações mais eficazes.

A própria UNICEF reforça esse ponto: "Sem dados e evidências, não podemos dar visibilidade à real dimensão do problema nutricional nem gerar a demanda por ações mais rápidas e eficazes."

6. Investir em Educação Nutricional para Mulheres e Meninas

A educação é fundamental: oferecer orientação nutricional a meninas adolescentes amplia seus conhecimentos sobre alimentação e pode levá-las a fazer escolhas mais saudáveis. Além disso, esse tipo de educação também está associado a um melhor desempenho escolar.

As escolas têm um papel essencial na melhoria da nutrição de meninas, funcionando como espaços estratégicos para oferecer educação alimentar, implementar programas de alimentação escolar que garantem refeições nutritivas, e promover iniciativas de saúde como desparasitação e lavagem das mãos.

O acesso à nutrição é um direito fundamental que não deve ser definido por onde você vive ou pelo seu gênero. Junte-se à Global Citizen para defender mais investimentos e cobrar dos líderes mundiais a eliminação das barreiras sistêmicas que impedem mulheres e meninas de terem acesso à nutrição adequada. Juntos, podemos garantir que mulheres e meninas tenham acesso a uma alimentação de qualidade, construindo um futuro melhor para todas e todos.

Global Citizen Explains

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Por Fadeke Banjo