O dia 17 de outubro marca o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, um lembrete crucial da luta contínua para tirar milhões de pessoas da situação de vulnerabilidade. Estabelecida pelas Nações Unidas, a data serve como um chamado global à ação para acabar com a pobreza em todas as suas formas. O tema deste ano, "Acabando com o Mau Trato Social e Institucional: Agindo Juntos Por Sociedades Justas, Pacíficas e Inclusivas", pede ação urgente contra a discriminação e as barreiras sistêmicas que mantêm as pessoas presas à pobreza.

Ao anunciar o tema de 2024, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou que aqueles que vivem na pobreza frequentemente enfrentam discriminação e obstáculos estruturais. Barreiras como a falta de acesso à educação, à saúde e a oportunidades econômicas dificultam escapar da pobreza. Para derrotá-la, é necessário que governos moldem instituições e sistemas que coloquem as pessoas em primeiro lugar.

A seguir, confira cinco motivos pelos quais todos nós devemos nos unir nessa missão de derrotar a pobreza:

1. Investindo em Trabalho Decente e no Empoderamento Econômico

Investir em trabalho decente e no empoderamento econômico é essencial para erradicar a pobreza, especialmente na África, onde uma população jovem em rápido crescimento enfrenta níveis alarmantes de desemprego. Essa geração representa uma força poderosa para o crescimento econômico - desde que tenha acesso a empregos de qualidade, educação e capacitação profissional. Ao aproveitar o potencial da juventude africana, podemos abrir oportunidades sem precedentes para o desenvolvimento sustentável e a prosperidade em todo o continente.

Na recente Assembleia de Desenvolvimento Econômico realizada em Abidjan, líderes de toda a África e de outras regiões se reuniram para discutir esses desafios e traçar um caminho para um futuro melhor para todos. Um dos compromissos firmados durante o evento deu origem à iniciativa Music Builds, uma colaboração entre a Global Citizen e o Center for Music Ecosystems para impulsionar o crescimento econômico por meio da valorização da juventude africana, de seu rico patrimônio musical e cultural. A iniciativa Music Builds visa transformar a série de concertos Move Afrika da Global Citizen em um evento de música e cultura de referência para países com infraestrutura de entretenimento limitada. Com isso, artistas africanos e suas comunidades terão acesso a recursos que incentivam seus talentos e oferecem plataformas para a expressão cultural, além de criar novas oportunidades de emprego e de empoderamento econômico.

2. Promovendo o Acesso à Educação de Qualidade

A educação é uma das ferramentas mais poderosas na luta para erradicar a pobreza. Ele capacita indivíduos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade, com o conhecimento e as habilidades necessárias para melhorar suas vidas. Além do aprendizado, a educação abre caminhos para melhores oportunidades de trabalho, promovendo a independência financeira e quebrando o ciclo da pobreza. Para famílias que vivem em extrema pobreza, o acesso à educação de qualidade pode ser transformadora, rompendo ciclos geracionais de miséria que muitas vezes parecem inescapáveis. Com mais de 250 milhões de crianças fora da escola, os obstáculos à educação básica ainda são imensos. Taxas escolares, pobreza, pobreza menstrual e a necessidade de trabalho infantil continuam a impedir milhões de crianças de terem uma chance de construir um futuro melhor.

O acesso à educação de qualidade não transforma apenas vidas individuais - ele fortalece comunidades inteiras. A educação promove estabilidade econômica, estilos de vida mais saudáveis e maior participação cívica. Quando as pessoas são capacitadas para aprender e se desenvolver, conseguem melhorar suas vidas e as de suas famílias, impulsionando uma sociedade mais justa e sustentável. A educação é um direito fundamental e essencial para quebrar o ciclo da pobreza.

Infelizmente, a luta contra a pobreza vai além da educação: com 1 em cada 11 pessoas no mundo ainda enfrentando a fome, combater a insegurança alimentar é crucial. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, agora à frente do G20, lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa ousada para transformar sistemas alimentares e enfrentar as desigualdades estruturais que contribuem para a fome. Você pode se juntar a essa luta pressionando os líderes mundiais a apoiarem a Aliança - entre em ação agora para ajudar a garantir que, enquanto as crianças obtenham acesso à educação, elas também tenham a nutrição necessária para prosperar na escola e na vida.

3. Defendendo a Proteção Social e o Acesso à Saúde de Qualidade

Pessoas que vivem em situação de pobreza, especialmente em países de baixa e média renda, enfrentam inúmeros desafios para acessar serviços de saúde de qualidade e levar uma vida saudável. A pobreza agrava esses desafios, como vimos na resposta global à COVID-19, quando foi necessário cobrar uma distribuição justa das vacinas e pressionar os países mais ricos a compartilharem seus estoques, lembrando a todos que o fim da pandemia exigiria um esforço coletivo, sem deixar nenhuma nação para trás. Essa interconexão dos problemas globais reforça a urgência de enfrentar a pobreza em relação a outras crises globais.

Essa urgência é ainda maior diante dos impactos das mudanças climáticas sobre a saúde, especialmente em regiões vulneráveis, onde o aumento das temperaturas pode causar 250.000 mortes adicionais por ano devido a questões como desnutrição e doenças infecciosas. Recentemente, destacamos essas conexões durante as nossas sessões de Financiamento para Saúde e Clima, onde o ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, enfatizou a importância de um compromisso global com a justiça na saúde e no clima, para garantir o acesso equitativo para todos. 

Mesmo antes da pandemia, milhões já enfrentavam dificuldades para acessar serviços de saúde essenciais. Em 2017, pelo menos metade da população mundial não tinha acesso básico à saúde, enquanto os custos com cuidados médicos empurravam cerca de 100 milhões de pessoas para a extrema pobreza todos os anos. Barreiras como o acesso limitado a vacinas, medicamentos essenciais, água potável e eletricidade continuam a alimentar um ciclo de saúde precária e pobreza.

No Global Citizen Festival deste ano, a Comissão Europeia anunciou um compromisso substancial de €260 milhões de euros com a Gavi, a Aliança de Vacinas, para melhorar o acesso às vacinas em regiões vulneráveis. Além disso, foram prometidos €213 milhões de euros para ajuda humanitária focada na segurança alimentar, um componente crítico da saúde geral. Mais recentemente, durante a Assembleia de Desenvolvimento Econômico, novos compromissos foram feitos para apoiar a missão da Gavi de aumentar as taxas de vacinação em toda a África.

Esses compromissos exemplificam a liderança das nações africanas na luta contra os desafios da saúde e destacam a importância das parcerias globais na derrota da pobreza. Combater essas barreiras é essencial para garantir que todos tenham acesso aos cuidados de saúde necessários para viver uma vida saudável e plena, independentemente de onde estejam

4. Lutando por Justiça Climática como Parte da Justiça Econômica

A mudança climática e a pobreza estão profundamente conectadas, sendo as comunidades mais pobres do mundo as mais vulneráveis a eventos climáticos extremos, como enchentes e secas. Esses desastres destroem meios de subsistência, agravam a insegurança alimentar e empurram as pessoas para a pobreza. Por exemplo, as prolongadas secas no Zimbábue devastaram a agricultura, aumentando os níveis de fome. A elevação do nível do mar e o deslocamento induzido pelo clima, especialmente nos países de baixa renda, criam "refugiados climáticos" que carecem de recursos para se reerguer. Durante o Global Citizen Now, líderes mundiais defenderam soluções de financiamento climático, como cláusulas de pausa na dívida, para ajudar os países a se reconstruírem após desastres naturais.

A ligação inegável entre mudanças climáticas e pobreza reforça a necessidade urgente de uma ação global para proteger tanto o planeta quanto seus habitantes. Ao defender o meio ambiente, você não apenas apoia comunidades vulneráveis, mas também promove soluções sustentáveis que abrem caminho para um futuro mais justo e sustentável para todos.

5. Combatendo Desigualdades Sociais e Raciais

Como disse Nelson Mandela: “Assim como a escravidão e o apartheid, a pobreza não é natural. Ela é criada pelo homem e pode ser superada e erradicada pelas ações humanas”. No Global Citizen Festival deste ano, a cantora Doja Cat, vestida com um traje com a bandeira da África do Sul, ecoou essas palavras poderosas. 

“Neste momento, milhões de homens, mulheres e crianças em Gaza, na Ucrânia, no Sudão, no Congo e em diversas partes do mundo estão sofrendo,” declarou ao público. “Em tempos como este, é importante lembrar que podemos levar mudança, amor, luz e esperança para aqueles que mais precisam. Continuem usando suas vozes para ajudar aqueles que fogem da violência a terem acesso a comida, abrigo e educação, tudo o que eles precisam e merecem.”

Apesar dos avanços rumo à igualdade, desigualdades sistemáticas de raça e gênero continuam a aprisionar milhões de pessoas na pobreza em todo o mundo. Pessoas LGBTQ+, por exemplo, enfrentam barreiras significativas que contribuem para a pobreza. 

Nos EUA, 22% dos adultos LGBTQ+ vivem na pobreza, em comparação com 16% dos seus homólogos heterossexuais e cisgêneros. Em locais onde faltam proteções legais, as comunidades LGBTQ+ sofrem discriminação que limita suas oportunidades econômicas, perpetuando ciclos de pobreza. Reconhecendo a necessidade de apoiar comunidades marginalizadas em sua luta por direitos iguais, a Adobe Foundation subiu ao palco do festival deste ano e anunciou um compromisso de US$500 mil dólares para a Outright International, a fim de apoiar a proteção da comunidade LGBTQ+ contra violações de direitos humanos.

A desigualdade de gênero também desempenha um papel crucial na perpetuação da pobreza. Mundialmente, as mulheres enfrentam uma diferença salarial significativa, ganhando, em média, 20% a menos que os homens para trabalhos equivalentes. Essa disparidade é ainda maior para mulheres negras e para aquelas em empregos de baixa renda. Reduzir essa diferença poderia injetar US$12 trilhões de dólares na economia global. No entanto, enquanto ela persistir, o poder aquisitivo das mulheres continuará limitado, restringindo os gastos domésticos, diminuindo a capacidade de poupança para a aposentadoria e elevando os índices de pobreza, especialmente entre mulheres idosas. Esse efeito se propaga pelas famílias e comunidades, dificultando o acesso a serviços essenciais como saúde, moradia e educação para quem tem renda mais baixa.

O casamento infantil também afeta mais de 650 milhões de mulheres e meninas no mundo, aprofundando a pobreza e a desigualdade de gênero. Essa prática tira meninas da escola, limita seu potencial de ganhos e resulta em famílias maiores e com mais custos. Terminar com o casamento infantil é uma necessidade tanto em termos de direitos humanos quanto de economia, com potencial para economizar bilhões, ao melhorar a saúde e empoderar 

Erradicar a pobreza exige enfrentar os fatores sociais, econômicos e ambientais que mantêm grupos marginalizados presos à exclusão. Ao defender soluções sustentáveis e políticas equitativas, podemos quebrar ciclos de dificuldades e criar um futuro onde todos tenham a oportunidade de prosperar com dignidade.

Global Citizen Explains

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Por Lonwabo Nkonzo