Em junho de 2023, a campanha Power Our Planet (Empodere Nosso Planeta) foi lançada com um grande show em Paris e um chamado global por reformas financeiras em prol de países de baixa renda, para que pudessem se adaptar e responder aos impactos da crise climática. A iniciativa teve como objetivo liberar bilhões de dólares em recursos econômicos e desenvolvimento para a África e outras regiões do mundo que são desproporcionalmente afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas.
O evento contou com apresentações de artistas mundialmente renomados como Billie Eilish, Jon Batiste, H.E.R, Jack Harlow e Lenny Kravitz. Reuniu líderes influentes do Norte e Sul globais e atraiu mais de vinte mil pessoas dispostas a fazer a diferença e repensar a nossa arquitetura financeira global para que funcione a favor das pessoas e do planeta.
O concerto foi realizado paralelamente à Cúpula por um Novo Pacto Financeiro Global, promovida pelo presidente francês Emmanuel Macron, que visava estimular maior investimento em soluções climáticas e de desenvolvimento. O principal objetivo da cúpula era lançar as bases de um sistema financeiro mais justo, onde "nenhum país precise escolher entre reduzir a pobreza, combater as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade".
Um Anúncio Histórico Sobre Alívio da Dívida
Durante o evento, Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, fez um anúncio inédito ao lado da Primeira-Ministra de Barbados e copresidente da campanha Power Our Planet, Mia Mottley.
Banga revelou uma mudança significativa na política no Banco Mundial: a introdução de cláusulas de suspensão da dívida para apoiar países endividados que foram impactados por desastres naturais. Com esse anúncio, o Banco Mundial se junta a outros bancos multilaterais de desenvolvimento e instituições privadas que adotaram políticas semelhantes.
O funcionamento do mecanismo é, na prática, simples: ele permite que países elegíveis e afetados por desastres suspendam todos os pagamentos da dívida e juros relacionados em seus empréstimos pendentes por até dois anos, aliviando os orçamentos nacionais e oferecendo o fôlego necessário para focar em ações emergenciais de recuperação.
Banga reconheceu o papel essencial de cidadãos globais e de líderes de nações vulneráveis, como Mia Mottley, por usarem suas vozes para impulsionar essa mudança, enfatizando que países em situação frágil não deveriam ter que se preocupar com o pagamento de dívidas enquanto enfrentam desastres naturais provocados pelas mudanças climáticas. Inicialmente, essa política foi concedida a 12 países, mas o Banco Mundial desde então expandiu a elegibilidade para 45 países, potencialmente liberando US$9,5 bilhões de dólares anualmente para as nações mais vulneráveis do mundo. Embora o Banco Mundial ainda não tenha implementado essa cláusula de suspensão em um de seus próprios empréstimos, a expectativa é de que, no futuro, esse tipo de medida ofereça alívio temporário a países afetados, permitindo que invistam em economias mais resilientes e evitem o ciclo vicioso de endividamento gerado por desastres naturais.
Em agosto de 2024, Granada entrou para a história como o primeiro país do mundo a ativar uma cláusula de suspensão da dívida, adiando seus pagamentos a diversos credores privados após a passagem do furacão Beryl, que causou danos equivalentes a um terço do PIB anual do país. A medida permitirá que Granada economize cerca de US$30 milhões de dólares em pagamentos ao longo do ano seguinte, redirecionando esses recursos para ações imediatas de recuperação e para a manutenção de serviços essenciais dos quais a população depende.
Construindo uma Coalizão Global
O sucesso da campanha Power Our Planet está ancorado em uma ampla coalizão de apoiadores, composta por ativistas climáticos, fundações filantrópicas, organizações sem fins lucrativos e líderes do setor privado. Figuras notáveis como o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Rajiv Shah, presidente da Fundação Rockefeller, e Ban Ki-Moon, ex-secretário geral das Nações Unidas, demonstraram seu apoio participando do concerto realizado em Paris.
Outros apoiadores notáveis da campanha incluíram líderes mundiais como Emmanuel Macron, presidente da França, Julius Maada Bio, presidente de Serra Leoa, Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, e José Ramos-Horta, presidente de Timor Leste. Juntos, essas vozes refletem o amplo apoio internacional à necessidade urgente de atualizar o sistema financeiro global, para que ele atenda de forma mais justa às necessidades de todos os países, independentemente de sua renda ou sua posição econômica.
Reformando as Finanças Globais
O avanço da campanha Power Our Planet ao longo do último ano representa um passo significativo rumo à transformação do sistema financeiro internacional para que ele passe a atender de forma mais equitativa todas as nações do mundo.O objetivo final é criar um sistema que permita que aos países de baixa renda acessarem o financiamento necessário para tirar suas populações da extrema pobreza e apoiar uma transição verde global que seja justa e inclusiva.
Isso exigirá pressão contínua sobre aqueles no poder, especialmente os governos que são os principais acionistas de instituições como o Banco Mundial, para que impulsionem reformas mais profundas. As cláusulas de suspensão da dívida são um avanço importante, mas representam apenas o começo. Há muito mais trabalho a ser feito para permitir desenvolvimento sustentável e resiliência climática. É urgente expandir o alcance dessas cláusulas para incluir outros tipos de crises, além de assegurar que elas se apliquem também aos países mais pobres, e não apenas aos pequenos estados insulares em desenvolvimento. Fome, seca, conflito e choques econômicos podem ser tão devastadores quanto furacões e inundações. No entanto, as medidas atuais de alívio da dívida ainda não levam em conta essas realidades. Para ajudar verdadeiramente os países que enfrentam crises sobrepostas, essa política precisa evoluir ainda mais para oferecer um socorro abrangente contra múltiplos tipos de desastres.
Olhando para o Futuro
Enquanto celebramos o que os Global Citizens e a campanha Power Our Planet conquistaram, também estamos olhando para frente. A Power Our Planet provou que é possível influenciar mudanças sistêmicas que permitam às nações mais pobres e vulneráveis enfrentar os desafios do futuro. Pode parecer ambicioso, mas o progresso alcançado até agora demonstra que, com esforço coletivo, uma mudança transformadora é possível.