O Global Citizen NOW aterrissou oficialmente na Europa pela primeira vez em 29 de junho. Realizado no deslumbrante CaixaForum, em Sevilha, na véspera da quarta Conferência da ONU sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), o evento de um dia foi coorganizado pelo governo da Espanha e reuniu alguns dos líderes, formuladores de políticas e ativistas mais influentes do mundo para dar início a uma semana de intensos debates sobre políticas globais.
Ao longo de uma série de debates dinâmicos, que lançaram luz sobre novas formas de reformar as finanças internacionais, os palestrantes do Global Citizen NOW: Sevilha discutiram como podemos destravar os sistemas financeiros e defender reformas que direcionem os investimentos para soluções econômicas e climáticas mais justas, especialmente para as comunidades mais vulneráveis do planeta.
O evento foi uma oportunidade crucial para reunir líderes globais e vozes influentes em um só lugar e impulsionar grandes ideias. Discussões abertas como essas são essenciais para entender o que está funcionando (e, tão importante quanto, o que não está) no campo do financiamento ao desenvolvimento internacional e, assim, permitir que os líderes criem sistemas que beneficiem a todos.
A seguir, um resumo das ideias e momentos que, mesmo diante dos crescentes desafios globais, transmitiram uma poderosa mensagem de esperança.
Colocando o Global Citizen NOW: Sevilha em Contexto
Com cortes nos orçamentos de ajuda internacional e o aumento da desigualdade global, o Global Citizen NOW chegou a Sevilha em um momento crítico. Esta edição marcou a mais recente etapa da nossa principal série de cúpulas de liderança e impacto, que já passou por cidades como Nova Iorque, Melbourne e Rio de Janeiro. Esses encontros vão além de debater os maiores desafios do mundo. Eles são sobre encontrar caminhos reais para que lideranças globais e cidadãos engajados possam agir agora para enfrentá-los — não em algum momento no futuro, mas agora.
A partir de nossas campanhas em andamento, Proteja a Amazônia e Ampliando as Renováveis na África, o Global Citizen NOW: Sevilha teve uma missão clara: pressionar líderes mundiais a assumirem compromissos financeiros ousados no combate à pobreza extrema, às vésperas da conferência FfD4. É urgente que esses líderes ajam para reformar os sistemas financeiros, financiar soluções climáticas e garantir um futuro sustentável para todos.
Em um momento marcado por tensões geopolíticas crescentes e crises globais interligadas, as cúpulas do Global Citizen NOW oferecem um espaço para reunir líderes, inovadores e ativistas em conversas estratégicas. Hoje, isso significa debater o que é necessário para revitalizar a cooperação global em uma nova era de desenvolvimento, com foco em como as instituições devem se adaptar e como novas parcerias precisam evoluir para atender às necessidades das futuras gerações.
O Que Estamos Defendendo
No Global Citizen NOW: Sevilha, elaboramos uma agenda com um chamado urgente à ação na conferência FfD4, centrada em cinco prioridades fundamentais:
- Alívio da dívida para países de baixa e média renda, permitindo que invistam em serviços públicos como saúde e educação, em vez de destinar recursos ao pagamento de dívidas.
- Adoção ampla de ferramentas financeiras inovadoras, incluindo a realocação dos Direitos Especiais de Saque (SDRs), títulos climáticos e mecanismos de financiamento misto que combinem recursos públicos e privados para ampliar o impacto.
- Compromissos vinculantes com a ajuda internacional, com a meta mínima de 0,7% dos orçamentos dos países mais ricos.
- Valorização das prioridades e perspectivas do Sul Global nas instituições de desenvolvimento, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
- Mecanismos concretos de responsabilização, com prazos, acompanhamentos e total transparência, para que promessas quebradas e medidas pela metade não tenham mais espaço no financiamento climático.
Por Dentro da Cúpula: Painéis e Diálogos-Chave
O dia começou com as palavras de boas-vindas do CEO da Global Citizen, Hugh Evans, e da atriz, humanitária e embaixadora da Global Citizen, Nomzamo Mbatha, que também atuou como anfitriã ao longo de toda a cúpula.
Pedro Sánchez, presidente do Governo da Espanha, fez o discurso de abertura, destacando a importância da esperança e da urgência em promover justiça econômica em um momento de crescentes necessidades e cortes nos orçamentos de ajuda internacional. “O simples fato desta conferência estar acontecendo — enquanto conflitos se espalham pelo mundo — já é motivo para termos esperança”, disse ao público. “A esperança importa, e é a ação que gera resultados.”
Pedro Sánchez, presidente do Governo da Espanha, fez o discurso de abertura do Global Citizen NOW: Sevilha, destacando a importância da esperança e da urgência em promover justiça econômica.
Uma série de painéis deu continuidade à mensagem de esperança impulsionada pela ação, incluindo:
- Reimaginando a Cooperação Global: Da Dependência da Ajuda à Prosperidade Compartilhada — Dr. Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, e María Fernanda Espinosa, diretora-executiva da GWL Voices e ex-presidente da Assembleia Geral da ONU, abriram os painéis do dia com uma visão clara: transformar os modelos tradicionais de ajuda e desenvolvimento, trocando a lógica de dependência por um novo enfoque baseado na responsabilidade mútua e na reciprocidade.
- O Futuro do Financiamento ao Desenvolvimento Global — Em um painel abrangente moderado por Shari Spiegel, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30; Binaifer Nowrojee, presidente da Open Society Foundations; e Thani Mohamed-Soilihi, ministro de Estado da Francofonia e Parcerias Internacionais da França, discutiram coletivamente como reequilibrar os sistemas de financiamento internacional e a gestão da dívida. O objetivo: garantir que os países do Sul Global tenham condições de investir em seus próprios futuros.
- Ajuda e Desenvolvimento na Linha de Frente — Moderado por Laura Thompson, diretora-geral adjunta da Organização Internacional do Trabalho, o painel contou com Álvaro Lario, presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola da ONU; Jayati Ghosh, do Conselho Consultivo de Alto Nível da ONU; e Daouda Sembene, CEO da AfriCatalyst. O debate destacou como os modelos tradicionais de ajuda muitas vezes não alcançam quem mais precisa. Os participantes enfatizaram a importância de modelos de cofinanciamento liderados pelos próprios países e de parcerias mais equitativas em todas as frentes.
- Financiando o Futuro das Energias Renováveis na África — Em uma conversa voltada para o futuro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o CEO da Global Citizen, Hugh Evans, e a atriz e embaixadora Nomzamo Mbatha discutiram como Sevilha se conecta à trajetória global rumo à COP30, em Belém, e à Cúpula do G20, em Joanesburgo. O painel destacou como o mundo pode atuar em conjunto para acelerar o acesso à energia renovável em toda a África e reduzir a pobreza energética com os investimentos certos e a vontade política necessária.
- Fechando a Lacuna Global de Financiamento — Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation, Duncan Ward, CEO da TransEnergy Global, e Mohamed Juldeh Jalloh, vice-presidente de Serra Leoa, participaram de uma conversa moderada por Mick Sheldrick, diretor de Políticas, Impacto e Relações Governamentais da Global Citizen. O painel abordou o descompasso alarmante entre as crescentes necessidades globais e as opções limitadas de financiamento disponíveis. Os participantes discutiram a necessidade de reformar os bancos multilaterais de desenvolvimento, o potencial das taxas solidárias, e novas formas de parcerias intersetoriais para transformar o financiamento climático. Antes do início oficial da sessão, a convidada especial Yacine Fal, representante especial do Fórum de Investimentos do Banco Africano de Desenvolvimento, se juntou a Sheldrick no palco.
- Destaque: O Papel da Filantropia na Reforma Sistêmica — Em uma conversa no palco, Mark Suzman, CEO da Gates Foundation, e a embaixadora da Global Citizen, Nomzamo Mbatha, discutiram como a filantropia, quando bem aplicada, pode ir além da resposta humanitária emergencial e impulsionar mudanças sistêmicas de longo prazo. O diálogo abordou como esse tipo de investimento pode promover transformações duradouras em áreas como saúde global e educação — de forma inclusiva e equitativa para todos.
Mais tarde, por meio de uma mensagem em vídeo, Sua Excelência Ban Ki-moon, ex-secretário-geral das Nações Unidas, lembrou aos participantes o que realmente está em jogo. Diante do agravamento dos choques climáticos, da fome e da desigualdade, ele fez um apelo aos líderes globais para que ajam com urgência e compaixão — especialmente em favor daqueles que estão na linha de frente dessas crises. “Os líderes mundiais devem usar todas as ferramentas disponíveis para adaptar o sistema financeiro atual ao combate à pobreza extrema, à crise climática, à redução das desigualdades e à ampliação do acesso à educação e à saúde para todos”, afirmou. Seu chamado à ação incluiu ainda um apelo direto para que pequenos agricultores tenham acesso facilitado aos sistemas financeiros, em sintonia com os debates realizados ao longo do dia.
Shari Spiegel, Thani Mohamed-Soilihi, Binaifer Nowrojee e André Corrêa do Lago discutem a reconstrução dos sistemas financeiros internacionais considerando as prioridades do Sul global.
Um Anúncio Importante
Um dos focos centrais do Global Citizen NOW: Sevilha foi encontrar caminhos ousados e ainda inexplorados para mobilizar mais capital para o desenvolvimento e garantir que esses recursos cheguem onde são mais necessários. Um exemplo-chave disso é a campanha Ampliando as Renováveis na África (SURA), lançada pela Global Citizen em parceria com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, com orientação política da Agência Internacional de Energia. A campanha tem como meta triplicar a capacidade de energia renovável da África até 2030, criar 500 mil empregos em energia limpa e fechar a lacuna de acesso à eletricidade para os 600 milhões de pessoas no continente que ainda vivem sem energia confiável. A iniciativa culminará em um grande momento de compromissos e anúncios em novembro, durante a Cúpula do G20 em Joanesburgo.
Como destacou a presidente Ursula von der Leyen durante seu painel, a África possui alguns dos recursos solares mais abundantes do mundo. No entanto, atualmente, apenas 3% dos investimentos globais em energia chegam ao continente. Sem uma mudança rápida no fluxo de capitais, a oportunidade de expandir a capacidade energética, fortalecer a resiliência climática e impulsionar o desenvolvimento econômico poderá ser perdida em meio à estagnação política e ao aumento das temperaturas.
Mas, mais tarde naquele dia, um anúncio inovador ajudou a transformar a visão da campanha em realidade. Em um feito histórico, Duncan Walsh, CEO da TransEnergy Global, parceira da campanha SURA, revelou o Projeto Mzansi: a compra de uma importante reserva de carvão na província de Limpopo, na África do Sul — não para extraí-la, mas para mantê-la intocada no subsolo por pelo menos 100 anos. A reserva é viável e estava prestes a entrar em operação, o que significa que essa decisão não é simbólica — ela impede emissões de carbono antes mesmo que aconteçam.
O CEO da TransEnergy Global, Duncan Ward, anuncia o Projeto Mzansi: a compra de uma importante reserva de carvão na África do Sul que manterá legalmente o carvão no subsolo por pelo menos os próximos 100 anos.
Ao longo dos próximos 100 anos, 118 milhões de toneladas de carvão permanecerão intactas, impedindo a liberação de 236 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera — o equivalente a plantar 1 bilhão de árvores e deixá-las crescer por uma década. Para viabilizar a iniciativa, a TransEnergy Global emitirá créditos de transição energética — um novo tipo de crédito de carbono vinculado a reservas fósseis que permanecem no subsolo. Esses créditos serão vendidos a empresas que buscam cumprir suas metas de descarbonização, e os recursos arrecadados serão reinvestidos em comunidades locais e projetos de energia renovável em toda a África do Sul. Os investimentos incluirão a expansão de energia solar, eólica, biomassa e eletrificação, além da criação de novos empregos verdes para trabalhadores em transição fora do setor do carvão.
A iniciativa é especialmente significativa na África do Sul, onde 82% da eletricidade ainda vem do carvão, e milhares de pessoas dependem dessa indústria para sobreviver. Até agora, esforços públicos para financiar a transição energética têm sido insuficientes. Esta é a primeira vez que uma empresa privada compra uma mina de carvão em nome da ação climática — e iniciativas como essa, que exploram novas formas de financiamento climático, podem ajudar a reduzir a lacuna de financiamento global e servir de modelo replicável para o resto do mundo, transformando passivos climáticos em ativos sustentáveis.
Além da Cúpula
Mais cedo, em reunião-almoço, a Global Citizen promoveu o encontro de parceiros de longa data e novos aliados em um diálogo sobre como a sociedade civil e o setor privado podem ajudar a preencher lacunas críticas que os governos, sozinhos, não conseguem resolver. A conversa abordou questões essenciais para o futuro do financiamento ao desenvolvimento: como impulsionar a inovação fora dos canais oficiais, envolver os jovens, reinventar parcerias público-privadas e garantir que necessidades urgentes — como nutrição, educação e saúde — não fiquem à margem das prioridades globais.
O CEO da Gates Foundation, Mark Suzman, fala sobre a arquitetura do financiamento ao desenvolvimento internacional, explicando como líderes e ativistas podem impulsionar mudanças sistêmicas de longo prazo para melhorar os resultados em saúde e educação para as futuras gerações.
Após o encerramento oficial do dia, a mobilização continuou nas ruas de Sevilha. A Global Citizen se uniu à campanha Hungry for Action para realizar uma intervenção visual impactante pela cidade. Monumentos icônicos da capital andaluza — incluindo o CaixaForum, Las Setas, La Catedral e a Ponte de Triana — foram iluminados com projeções que chamavam atenção para a crise global da fome e lançavam uma pergunta direta e urgente aos líderes presentes para a FfD4: “A quem vocês servem?”
A ação marcou mais um capítulo da campanha #EmptyPlates, que exige que os negociadores priorizem a fome e a nutrição nas decisões políticas e financeiras. Em um mundo que produz alimento suficiente para todos, 733 milhões de pessoas ainda vão dormir com fome todas as noites. Isso não é acaso — é resultado de escolhas políticas e institucionais. Essa crise poderia ser totalmente evitada, mas apenas se os negociadores deixarem de tratar a nutrição como um tema secundário e a colocarem no centro do financiamento ao desenvolvimento sustentável.
Olhando para o Futuro
O Global Citizen NOW: Sevilha está longe de ser o fim dessa conversa. A partir daqui, nosso movimento segue com força total, com novas paradas em Detroit, Belém e Joanesburgo ao longo de 2025, com o olhar firmemente voltado para gerar resultados concretos para as pessoas e para o planeta na COP30 e na Cúpula do G20, em novembro. Essas próximas etapas darão ainda mais impulso a algumas das nossas maiores campanhas até agora, como Proteja a Amazônia e Ampliando as Renováveis na África.
As questões em pauta — acesso à energia, justiça da dívida, financiamento climático — impactam vidas reais e o futuro de gerações inteiras. Mas os fatos são claros: as soluções existem e estão ao nosso alcance. O que falta é vontade política para colocá-las em prática. No entanto, como vimos nesta cúpula, o desejo de agir com ousadia está crescendo. Como disse o presidente Pedro Sánchez na abertura do evento: “Precisamos arregaçar as mangas e fazer o trabalho que a esperança exige.”
Portanto, mãos à obra. Junte-se a nós hoje mesmo pelo nosso site ou pelo app da Global Citizen. Comece assinando nossa petição que exige que os líderes presentes na FfD4 cumpram nossas propostas de política. E continue se informando sobre o sistema financeiro global atual e sobre como todos nós podemos pressionar quem está no poder a transformá-lo, construindo um futuro mais justo e igualitário para todos.