Dia 3 de dezembro é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, um ótimo dia para nos colocarmos no lugar de alguém com deficiência. Imagine por um momento que você está em uma cadeira de rodas na Flórida durante a chegada do Furacão Helena. Tente imaginar que você é cego na Nigéria durante uma inundação extrema. Ou imagine que você tem uma deficiência que as pessoas não conseguem ver, como diabetes, e por causa de uma onda de calor, seus níveis de açúcar no sangue estão seriamente desequilibrados. O ponto é: se você é uma pessoa com deficiência, os impactos das mudanças climáticas são significativamente mais desafiadores e perigosos para você.

E não estamos falando de uma minoria aqui. Mais de um em cada seis de nós, 16% da população mundial ou 1,3 bilhão de pessoas, tem algum tipo de deficiência, seja uma dificuldade de mobilidade, uma deficiência auditiva ou visual, um transtorno mental ou uma doença crônica. “As pessoas com deficiência são o maior grupo de minorias do mundo", diz Amina Audu, ativista nigeriana de direitos das pessoas com deficiência e professora de educação na Universidade Federal de Gusau. Quando criança, a medula espinhal de Amina foi gravemente lesionada em um acidente de carro. Não havia nenhum hospital de reabilitação na Nigéria focado especificamente em lesões na medula espinhal - e ainda não existe nenhum - então, com alguma assistência do governo, ela foi enviada para a Inglaterra para realizar o tratamento.

80% das pessoas com deficiência moram na parte sul do globo, onde são particularmente mais vulneráveis a eventos climáticos severos, como explica Amina. “Estamos enfrentando problemas com as mudanças climáticas, em termos de mobilidade, emergências... saúde. Por exemplo, quando está muito quente, pessoas com lesões na medula espinhal não conseguem regular a temperatura corporal.”

Como Eventos Climáticos Extremos Afetam as Pessoas com Deficiência

As mudanças climáticas afetam as pessoas com deficiência física e mental de diferentes formas. Durante muitas emergências climáticas, pessoas com deficiência normalmente possuem acesso limitado a serviços médicos fundamentais, incluindo tratamentos como medicamentos e oxigênio suplementar. E se a eletricidade cair, tudo, desde operar uma cadeira de rodas movida a bateria até um ventilador que salva a vida de uma criança, de repente, se torna impossível. De maneira geral, pessoas com deficiência têm duas a quatro vezes mais chances de morrer em emergências climáticas.

Pessoas com inúmeras doenças crônicas, como asma, condições autoimunes e diabetes, são mais vulneráveis à má qualidade do ar, doenças transmitidas pela água e exposição ao calor. “Muitas pessoas com deficiência estão tomando remédios e… nós sabemos que existe uma interação entre o calor e a medicação, o que pode tornar os medicamentos menos eficazes ou torná-las mais vulneráveis a coisas como uma insolação”, explica a médica australiana de emergência e consultora em saúde pública, Dr. Kimberly Humphrey.

Entre as medicações que tornam as pessoas mais sensíveis ao calor estão alguns remédios psiquiátricos. O calor extremo também pode deixar as pessoas mais deprimidas ou irritáveis, podendo piorar condições pré-existentes ou desencadear novas doenças mentais. Na Colúmbia Britânica, pesquisadores descobriram que pessoas com esquizofrenia tiveram uma taxa de mortalidade três vezes maior durante uma onda de calor em 2021.

Apesar de as pessoas com deficiência estarem entre as mais vulneráveis durante desastres climáticos, planos específicos para elas não são frequentemente incluídos nos sistemas públicos de resposta a emergências. “Nossos sistemas não são feitos para pessoas que não sejam fisicamente capazes em geral, e qualquer coisa que fazemos acaba sendo um bônus”, diz a Dr. Humphrey, que está trabalhando para mudar isso na Austrália.

Um Lugar à Mesa

Ainda que pessoas com deficiência corram mais riscos durante os eventos climáticos, elas geralmente são deixadas de fora das discussões sobre mudanças climáticas e adaptação. No nível internacional, muitos eventos climáticos, como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) - ou COP, como é normalmente conhecida -, não incluem formalmente uma representação de pessoas com deficiência. Amina, que participou das últimas três COPs com um apoio privado, agora está pedindo um assento oficial à mesa. “A falta de representação formal dificulta a inclusão das perspectivas das pessoas com deficiência nas políticas climáticas. É crucial que a UNFCCC e os países membros reconheçam as vulnerabilidades e contribuições únicas das pessoas com deficiência no contexto das mudanças climáticas. Estabelecer uma representação para as pessoas com deficiência seria um passo significativo para garantir que as ações climáticas sejam inclusivas e equitativas.” 

Amina Audu, ativista nigeriana da área de deficiência e professora de educação na Universidade Federal de Gusau. Imagem: Jason Hayes


Plantando Esperanças

De volta à Nigéria, Amina está trabalhando para impulsionar mudanças. Ela fundou a Rebuilding Hope on Wheels Initiatives para apoiar sua comunidade. “Pessoas com deficiência precisam começar a reconhecer que, mesmo que sejam mais vulneráveis, elas também podem ser parte da solução", explica Amina. “Precisamos criar mais defensores. Quanto mais tivermos, mais vozes teremos.”

Um defensor de pessoas com deficiência que a Rebuilding Hope On Wheels Initiatives está apoiando é Dalhatu, um jovem do estado de Adamawa, na Nigéria, onde houve danos ambientais significativos causados pelo corte de árvores para lenha. Dalhatu não deixou sua lesão na medula espinhal ficar no caminho da sua luta contra as mudanças climáticas. De um viveiro privado com mais de 1.000 mudas, Dalhatu e seu time estão plantando árvores frutíferas em várias instituições de ensino superior no estado de Adamawa. As árvores oferecem sombra, reduzem o calor e fornecem alimentos para sua comunidade.

Unindo Forças

Amina também está unindo forças com outros líderes da saúde na Nigéria, como a professora de Saúde Musculoesquelética Adesola Odole. Juntas, elas estão conduzindo pesquisas em seis estados nigerianos sobre os efeitos das mudanças climáticas em pessoas com deficiência. A professora Odole afirma, “Pessoas como eu, que são profissionais da saúde e têm participado de conversas, interações e encontros com pessoas com deficiência, precisamos começar a promover iniciativas sustentáveis.” 

Transformando palavras em ações, a professora Odole criou seminários especiais sobre clima e deficiência para seus estudantes de fisioterapia. Ela está otimista sobre o futuro. “Esta é uma comunidade de jovens estudantes enérgicos que estão dispostos a amplificar as vozes sobre mudanças climáticas e sua interseção com saúde e deficiência.”

Nada Sobre Nós, Sem Nós

A frase “Nada Sobre Nós, Sem Nós” se tornou um grito de guerra entre os ativistas globais de deficiência. Amina afirma: “A deficiência não pode permanecer como uma simples menção ou uma caixa a ser marcada nas discussões. As pessoas com deficiência têm o direito de ter suas vozes ouvidas, respeitadas e dignificadas.” 

Essas vozes serão levantadas na Cúpula Global sobre Deficiência em Berlim, em 2025, que focará no desenvolvimento inclusivo para pessoas com deficiência, principalmente no sul. A cúpula será coorganizada pela Aliança Internacional para a Deficiência e pelos Governos da Alemanha e Jordânia. O evento reunirá líderes, representantes de organizações de pessoas com deficiência e outras organizações da sociedade civil para transformar promessas em ações e garantir que a inclusão das pessoas com deficiência seja o centro da mudança global.

Para garantir igualdade para todos, precisamos tomar uma atitude não apenas na cúpula, mas também exigir que líderes se comprometam a incluir as pessoas com deficiência em todas as conversas globais sobre mudanças climáticas e adaptação, além de lutar pelo desenvolvimento inclusivo e a plena implementação de seus direitos.

Editorial

Defenda o Planeta

Como as Pessoas com Deficiência São Ainda Mais Vulneráveis às Mudanças Climáticas

Por Janet Tobias