A Global Citizen tem reunido pessoas há mais de uma década para empoderar cidadãos e pressionar os tomadores de decisão a agirem nas questões que mais importam para todos nós, desde a eliminação da extrema pobreza até a promoção da equidade e a implementação urgente de ações climáticas.

Não estou escrevendo para repetir o que muitos já sabem sobre nossa missão - espero, inclusive, que você tenha assistido ao Global Citizen Festival, realizado no dia 23 de setembro (e que também tenha conferido nosso relatório de impacto).

O que quero destacar aqui é como a atuação da Global Citizen se tornou mais abrangente e integrada nos últimos anos, e por que é mais importante do que nunca prestar atenção a essa transformação.

Eliminar a pobreza de forma sustentável não é apenas uma questão de dinheiro - se fosse tão simples, a maior parte da pobreza já teria desaparecido. Não se trata de simplesmente transferir recursos dos países do chamado “Norte Global” para os do “Sul Global”. Acabar com a pobreza, impulsionar ações climáticas decisivas e alcançar a equidade só será possível com vontade política, com o empoderamento dos cidadãos e com uma abordagem que leve os direitos humanos em consideração em todas as etapas do processo.

Tenho certeza de que alguns de vocês devem estar se perguntando: “Mas afinal, o que esse cara quer dizer com ‘uma perspectiva de direitos humanos’?”

Grande parte do que fazemos como seres humanos - e tudo o que precisamos para prosperar em nossas vidas - pode ser vista tanto sob a perspectiva do desenvolvimento quanto sob a perspectiva dos direitos humanos.

Vamos tomar como exemplo a construção de um poço ou de uma escola. Sob a perspectiva do desenvolvimento, trata-se de uma ação de cima para baixo - o Estado faz isso porque quer e porque pode, e você, como cidadão, está no papel de beneficiário, acessando água e educação. Mas se olharmos pela perspectiva dos direitos humanos, veremos que, ao construir uma escola ou um poço, o Estado está cumprindo uma obrigação, pois água e educação são direitos humanos fundamentais. Nesse caso, você deixa de ser apenas um receptor passivo e passa a ser um sujeito central, a razão pela qual o Estado existe. A partir dessa lógica, o Estado tem a responsabilidade de consultar você - e você tem o direito de reivindicar, reclamar e exigir. Não é de se estranhar, portanto, que muitos governos prefiram enquadrar essas ações como simples “desenvolvimento”: é mais conveniente e menos exigente para eles.

Mas, veja bem, eliminar a pobreza, alcançar a equidade e salvar o planeta não são apenas questões de desenvolvimento - são questões de direitos humanos. É por isso que a Global Citizen tem incorporado essa perspectiva em suas ações e em seus eventos mais do que nunca neste ano.

Essa perspectiva nos permitiu entrar em uma nova e empolgante fase em que estamos mais enfáticos no apoio ao espaço cívico e na luta ao lado de defensores dos direitos humanos e do meio ambiente. Por quê? Porque são eles que nos permitem defender e empoderar os cidadãos para que ocupem seu papel como sujeitos ativos, e não como meros objetos das decisões do Estado (ou das grandes corporações). Espero que, ao assistir aos nossos últimos eventos em Paris, em junho, e em Nova Iorque, em setembro, você tenha percebido essa mudança em ação.

Como gosto de repetir sempre que tenho a oportunidade: a própria existência da Global Citizen é fruto do espaço cívico e dos direitos humanos. Sim, a visão dos fundadores foi fundamental, mas, assim como boas sementes precisam de um solo fértil para criar raízes, a abertura do espaço cívico disponível - primeiro na Austrália e depois em Nova Iorque - foi essencial para o crescimento do nosso movimento. Essas mesmas sementes não teriam prosperado em outros “solos”, onde ativistas que reúnem pessoas para promover ação e cobrar governos e empresas seriam recebidos com assédio, prisão, desaparecimento - ou até a morte.

“Onde você vive não deve determinar se você vive” é um dos lemas mais recentes da nossa campanha. E, por isso mesmo, nós, enquanto movimento, temos o dever de ampliar o espaço que nos permitiu crescer. Quando você age conosco, participa de nossos eventos, apoia nossas campanhas, você está exercendo ativamente sua liberdade de expressão, de associação, de protesto pacífico - e tantas outras. Essa capacidade de agir é o ar que alimenta a mudança. É por isso que defender o ativismo e os ativistas, os direitos humanos e o espaço cívico tornou-se uma parte essencial, e cada vez mais visível, do nosso trabalho.

Agora que você leu até aqui, espero que, ao assistir - ou até mesmo reassistir - ao nosso festival de setembro, algumas das nossas escolhas fiquem mais evidentes e intencionais: desde o número expressivo de ativistas em destaque no palco, ao momento de solidariedade aos manifestantes no Irã; dos apelos por apoio a defensores dos direitos humanos (DDHs) à celebração do hip hop como forma de expressão e protesto… Das cinco empresas que assinaram nosso compromisso público de nunca recorrer a ações judiciais estratégicas contra a participação pública (SLAPPs), aos governos da Lituânia e do Kosovo, que se comprometeram a apoiar os DDHs… E, por fim, às mensagens vindas da United Nations High Commissioner for Human Rights (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos), da Ford Foundation e da campanha Be Seen Be Heard.

Todos esses apelos por ampliar o espaço cívico, proteger ativistas e encarar o mundo a partir de uma perspectiva de direitos humanos não são apenas objetivos nobres em si. Eles são o oxigênio de que precisamos, como mobilizadores e defensores de causas, para promover mudanças reais e duradouras, com as pessoas no centro de tudo.

Por isso, continue participando das nossas campanhas, siga engajado e agindo conosco. Seja um ativista, seja um defensor dos direitos humanos e do meio ambiente, junto com a Global Citizen.

Opinion

Derrote a Pobreza

Global Citizen Faz Campanha para Proteger e Ampliar o Espaço Cívico - Entenda por que Isso Importa

Por Ruben Escalante-Hasbun