"Nós vamos conseguir."

Quando o ativista climático e ganhador do Prêmio Nobel, Al Gore, subiu ao palco do TED em julho deste ano para dizer que está convencido de que vamos resolver a crise climática, muitos na plateia levantaram as sobrancelhas com ceticismo.

É fácil entender o porquê. Por todos os lados, a crise climática avança de forma implacável: dilacerando economias, arruinando futuros, destruindo meios de subsistência, deixando as pessoas famintas e empurrando os mais vulneráveis ainda mais para a extrema pobreza. A cada dia, surgem novas evidências da injustiça climática, à medida que essa emergência continua devastando justamente aqueles que menos contribuíram para causá-la.

Enquanto isso, as maiores empresas de combustíveis fósseis (sim, aquelas que mais contribuíram para a crise climática) registraram US$100 bilhões de dólares em lucros apenas no primeiro trimestre de 2023.

Ainda assim, temos as soluções. Ao contrário do que pode parecer diante da enxurrada de manchetes apocalípticas e de anos de conferências climáticas que pouco entregaram, a crise climática é, sim, um problema com solução. Mas não é o tipo de luta onde vencemos ou falhamos. 

Com mais 2 milhões de vidas já perdidas e milhões de pessoas enfrentando fome, perda de moradia e de sustento, é difícil falar em "sucesso".

Por outro lado, o fracasso não é uma opção, não quando está em jogo o único planeta que chamamos de lar. Existe um caminho para sair dessa crise climática. E aqui está como trilhá-lo:

Encontrar o dinheiro é possível.

A crise climática é cara. Eventos climáticos extremos alimentados pelas mudanças provocadas pela ação humana, já custaram cerca de US$4 trilhões de dólares nos últimos 50 anos, de acordo com um relatório da World Meteorological Organization (WMO).

A boa notícia é que os bancos de desenvolvimento globais (pense neles como instituições financeiras voltadas para o bem comum, como o Banco Mundial), têm o poder de mobilizar muito mais recursos para enfrentar a crise climática. Mas, para isso, precisam tomar decisões e promover mudanças estruturais urgentes. 

Uma parte essencial dessa reforma financeira global é a realocação de Direitos Especiais de Saque (SDRs, na sigla em inglês), uma espécie de moeda internacional do FMI, de países ricos para nações que mais precisam de apoio no enfrentamento da crise climática.

Em 2021, durante a cúpula do G20, os líderes globais estabeleceram uma meta ambiciosa: canalizar voluntariamente US$100 bilhões de dólares em SDRs para esse fim. No entanto, essa meta ainda não foi atingida. Até fevereiro de 2023, o total de compromissos relatados somavam cerca de US$87 bilhões de dólares.

Outra possível fonte de recursos poderia vir da taxação da indústria naval — um setor que, até agora, tem escapado em grande parte da tributação, já que o que acontece em alto-mar não está sob a jurisdição direta de nenhum governo.

Se as emissões de carbono do setor fossem taxadas, isso não apenas incentivaria uma transição mais rápida da indústria de navegação para práticas sustentáveis, como também poderia gerar cerca de US$100 bilhões de dólares por ano — verba que poderia ser direcionada aos países mais pobres para ajudá-los a combater a crise climática.

Outra via promissora é o financiamento climático anual de US$100 bilhões de dólares prometido pelas nações mais ricas do mundo em 2009 — um compromisso que ainda não foi cumprido.

Podemos impedir que países vulneráveis ao clima afundam em dívidas

Quando desastres causados pelas mudanças climáticas atingem países de baixa e média renda — provocando desde crises de saúde até escassez de alimentos — essas nações têm pouquíssima margem de manobra para encontrar recursos e responder a essas emergências, muito menos para guardar dinheiro “para o caso de algo acontecer”. 

Um dos principais motivos é o endividamento. Em vez de investir em serviços públicos, esses países estão obrigados a destinar grande parte de seus recursos ao pagamento de dívidas. Pagamentos que hoje atingem o nível mais alto dos últimos 25 anos

Mas há uma solução: as chamadas cláusulas de suspensão da dívida, que permitiriam pausar os pagamentos durante períodos de crise, liberando recursos imediatos para que os países pudessem enfrentar e resistir melhor aos desastres.

Podemos reduzir as emissões.

Os cientistas concordam amplamente que é fundamental reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em quase metade até 2030. Eles também destacam a importância de alcançar emissões líquidas zero até 2050 para lidar com as sérias consequências da crise climática.

É nesse contexto que surge a Race to Zero (Corrida para o Zero), uma campanha liderada pelas Nações Unidas que convida empresas, cidades, regiões, investidores e instituições financeiras e educacionais a se comprometerem com essa meta.

Até agora, mais de 11.309 atores não estatais aderiram à iniciativa, incluindo: 8.307 empresas, 595 instituições financeiras, 1.136 cidades, 1.125 instituições educacionais e 65 instituições de saúde, tornando-se a maior aliança de todos os tempos comprometida com a neutralização das emissões de carbono.

No entanto, estima-se que há 334 milhões de empresas no mundo, pelo menos 10.000 bancos, mais de 10.000 cidades, e pelo menos 90.000 instituições educacionais. Ou seja, ainda há muito espaço para avanços. 

Podemos fazer a transição para a energia renovável.

A energia renovável — fornecida pelos nossos bons e velhos amigos sol, vento e água — tem o poder de beneficiar toda a população mundial, e é uma situação de ganha-ganha.

Investir em energia limpa não só reduziria significativamente as emissões globais de gases de efeito estufa, como também geraria 30 vezes mais empregos do que um investimento equivalente em combustíveis fósseis. Além disso, ela já é, hoje, muito mais barata do que queimar carvão, petróleo ou gás.

Você pode ajudar.

Não importa quem você é ou onde vive, você pode fazer parte desse movimento que enfrenta os maiores desafios do mundo e luta para acabar com a extrema pobreza, baixando o aplicativo Global Citizen e começando a agir hoje mesmo.

Você também pode fazer nosso quiz para aprender mais sobre o financiamento climático; assinar uma petição global pedindo que os líderes mundiais impulsionem uma transição energética justa; somar sua voz para cobrar o Primeiro-Ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, a não abandonar para a ação climática global; pressionar o Congresso dos EUA a encontrar novas formas de cumprir suas promessas climáticas e muito mais.

Global Citizen Explains

Defenda o Planeta

É possível resolver um problema como a crise climática? Aqui está o que você precisa saber.

Por Tess Lowery