A alta umidade e as temperaturas elevadas fazem das belas praias do Ceará, no Nordeste do Brasil, um paraíso turístico durante todo o ano.

Mas o aumento das temperaturas, as secas prolongadas, as chuvas extremas e a elevação do nível do mar estão devastando as comunidades pesqueiras e agrícolas da região, afetando mais de 4 milhões de pessoas, bem como o meio ambiente.

Isso ocorre porque o Nordeste é a região mais vulnerável às mudanças climáticas no Brasil. E o Ceará, lar de 9 milhões de pessoas e diversas comunidades indígenas, é um dos estados mais pobres do Brasil.

Antes do evento Global Citizen Live, em setembro de 2021, o Coldplay pediu que líderes mundiais agissem para defender o planeta, como parte da campanha anual da Global Citizen. Em especial, a banda pediu que oito governadores brasileiros se comprometessem a combater as mudanças climáticas.

O apelo incluía a proteção de quase 60% da floresta amazônica e o combate à rápida perda de terras rurais e da biodiversidade costeira no Nordeste brasileiro. Seis estados responderam, incluindo o Ceará, conhecido pelas vastas áreas de deserto, dunas avermelhadas e um extenso litoral atlântico.

Hoje, o estado semiárido enfrenta um aumento na desertificação devido às mudanças climáticas, pois o aumento das temperaturas está drenando as reservas de água subterrânea essenciais para a sobrevivência das comunidades agrícolas.

As mudanças climáticas também estão aquecendo os oceanos na costa de cidades como Fortaleza, elevando o nível do mar e tornando essas águas, antes biodiversas, inabitáveis para espécies como o golfinho boto-cinza e peixe-boi marinho. Enquanto isso, comunidades quilombolas — compostas por descendentes de africanos escravizados no Brasil — e comunidades indígenas, que pescam na região há gerações, também estão sendo duramente afetadas.

Como ativista climático e pesquisador de Fortaleza, Juaci Oliveira lidera programas que enfrentam essa crise de baixo para cima, implementando iniciativas que atendem às necessidades específicas das comunidades mais impactadas pelas mudanças rápidas do clima.

Conversamos com Oliveira sobre como trabalhar com as comunidades locais é essencial para gerar mudanças reais, sobre a força da ação dos jovens e sobre como o conhecimento pode nos capacitar a cobrar políticas climáticas mais eficazes, do nível federal ao nível local.

O que torna o Nordeste brasileiro e o Ceará únicos? E por que você luta para protegê-los?

Esta zona costeira específica do Ceará, com todos os seus ecossistemas, abriga uma biodiversidade marinha extremamente rica, o que a torna única no Brasil. Esses territórios são também lar de comunidades quilombolas e comunidades indígenas que ainda hoje dependem da pesca e da agricultura para sobreviver.

Já existe uma longa lista de espécies marinhas locais ameaçadas ou extintas - e eu trabalho com as comunidades para preservar e proteger sua existência. 

Conte um pouco mais sobre o seu trabalho ambiental e de sustentabilidade.

Iniciei minha carreira ambiental em 1993, no Ceará, ao ajudar a fundar o Grupo de Estudo de Cetáceos do Ceará, no Laboratório de Ciências Marinhas LABOMAR da Universidade Federal do Ceará.

A ideia era unir o conhecimento científico ao saber tradicional dos pescadores e povos locais, para frear a extinção das espécies de cetáceos da região.

Trabalhei na pesquisa e conservação do boto-cinza, desenvolvendo projetos de educação ambiental com pescadores e comunidades costeiras. Em 2000, comecei uma linha semelhante de trabalho com o peixe-boi marinho. Dessa jornada surgiram duas campanhas que coordeno até hoje: o Projeto Limpando o Mundo Ceará e a Estação Itinerante Ambiental.

Qual é o objetivo principal desses projetos e por que você os criou?

Ambos os projetos foram criados para dar continuidade a mais de duas décadas de trabalho essencial de conservação local e sustentabilidade ambiental, com foco na preservação das áreas costeiras da nossa região. O Projeto Limpando o Mundo Ceará mobiliza a sociedade para limpar áreas naturais do litoral de Fortaleza e de todo o estado do Ceará. 

Atualmente, o programa promove a conscientização e atua na redução, remoção e coleta de dados sobre resíduos encontrados nos ambientes costeiros locais, como o mar, praias, dunas, manguezais, rios, lagoas e florestas.

De forma semelhante, o projeto Estação Itinerante Ambiental também busca ampliar a conscientização sobre a importância da conservação dos oceanos, trabalhando diretamente com comunidades locais para aprofundar o conhecimento sobre a biodiversidade da nossa região.

Nosso objetivo é mostrar às pessoas como elas podem participar ativamente da transformação dos ecossistemas de maneira planejada e sustentável, combatendo a poluição oceânica local e promovendo uma convivência positiva e regenerativa com o meio ambiente.

Como as mudanças climáticas impactam sua comunidade e como as pessoas enxergam a sustentabilidade?

As secas e a falta de chuvas afetaram agricultores e pescadores locais, comprometendo a agricultura de subsistência, a produção econômica e a sobrevivência dessas comunidades. Hoje, [sustentabilidade] ainda é um conceito relativamente novo e pouco compreendido nesses locais, mas felizmente [as comunidades do Ceará] continuam praticando a sustentabilidade de forma tradicional, por meio de suas culturas.

No Brasil, o que impede o avanço da sustentabilidade? E que abordagem pode ser adotada para engajar as comunidades?

Através de programas de educação, empreendedorismo e desenvolvimento econômico, geração de renda e emprego, podemos envolver a sociedade [em sustentabilidade e ambientalismo]. Precisamos de programas públicos de alto impacto, focados no desenvolvimento das macrorregiões [do Brasil], em seus biomas e nas necessidades específicas das pessoas e comunidades dessas áreas. Ações pontuais em pequenas localidades podem gerar grandes transformações.

Como os programas ambientais e de sustentabilidade são promovidos e priorizados em Fortaleza e no Ceará?

[Programas [políticas e] servem mais aos interesses dos setores econômicos do que ao desenvolvimento das populações locais.

Os programas existentes são lentos, carecem de direção política e não enfrentam os grandes problemas, nem os antigos. Por exemplo, já não existe uma base de dados sobre a pesca artesanal no mar e nas águas interiores — hoje, as informações se limitam à produção e venda de pescado, atendendo apenas aos interesses de políticos ou corporações.

Também é muito difícil obter financiamento para projetos de pesquisa e programas na área de educação ambiental e conservação, especialmente aqueles voltados às comunidades tradicionais do Ceará.

Por que o apoio dos governos estadual e municipal do Brasil é tão importante para a proteção do clima?

Existem pessoas que sofrem com o racismo ambiental, e a defesa dessas comunidades, assim como a defesa do planeta, depende de nós. Hoje, aqueles que dependem da natureza para viver estão sofrendo e sendo privados de seus direitos humanos, enquanto a destruição ambiental continua.

O apoio aos programas de sustentabilidade precisa estar integrado a todos os planos, programas e decisões econômicas e de desenvolvimento.

Por que é importante proteger a Amazônia e o meio ambiente brasileiro? E por que os brasileiros deveriam se importar?

A Amazônia é um "motor natural" que impulsiona o transporte, a movimentação e o deslocamento das águas, além de regular o clima, sendo vital para a manutenção da vida em todo o planeta e nos oceanos. 

Os brasileiros só irão valorizar e cuidar da floresta quando compreenderem como esse ecossistema impacta positivamente suas próprias vidas.

Quais foram suas maiores realizações?

Uma grande realização tem sido ver um aumento na sensibilidade ambiental e uma expansão do trabalho colaborativo feito por pessoas, instituições e movimentos.

Hoje, vemos uma geração de jovens que foi impactada por iniciativas como o Projeto Limpando o Mundo Ceará e a Estação Itinerante Ambiental.

Esses jovens estão se emancipando por meio dos estudos e do trabalho, assumindo posições importantes em suas comunidades, priorizando o ambientalismo e a sustentabilidade, e lutando por mudanças, tanto em lutas antigas quanto novas, pelos territórios, pela cultura, pela saúde e pela educação.

Image: Projeto Limpando o Mundo -CE


Você pode se juntar à campanha da Global Citizen para acabar com a extrema pobreza AGORA e tomar medidas climáticas AGORA participando aqui. Torne-se parte de um movimento impulsionado por cidadãos de todo o mundo que estão tomando medidas junto a governos, corporações e filantropos para promover mudanças reais.

A Global Citizen é grata a Re:wild e ao Center for Environmental Peacebuilding por seus contínuos esforços para proteger nosso planeta e as comunidades mais vulneráveis impactadas pelas mudanças climáticas.

Global Citizen Asks

Defenda o Planeta

Conheça o Ativista Climático que Protege a Costa Marinha no Nordeste Brasileiro

Por Camille May